A arquitetura acolhe o corpo em seu tato, a mente em seu olhar e possibilita o movimento em seu espaço, mas não se resume ao conforto físico, a conceitos formais e a satisfação estética. O ambiente em que se vive expressa a forma de ser. Um estado de espírito no tempo!

“A arquitetura acolhe o corpo em seu tato, a mente em seu olhar e possibilita o movimento em seu espaço, mas não se resume ao conforto físico, a conceitos formais e a satisfação estética. O ambiente em que se vive expressa a forma de ser. Um estado de espírito no tempo.” A definição é do arquiteto Mauro Antonietto, responsável pelo projeto desta casa em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba.

“Com a reforma, transformamos a linguagem arquitetônica, criamos ambientes e vocabulários conforme as características e necessidades do Sul”

A história é peculiar: os proprietários compraram uma casa demolida em Minas Gerais.

Com as portas, janelas, telhas, assoalho e vigas de madeiras nobres, como a braúna, uma madeira de lei escura, extremamente resistente e outras raridades, como pau-brasil, peroba e jacarandá, construíram uma nova residência no sul do país.

“A casa estava fora do seu ‘topos’”, afirma Mauro. “Com a reforma, transformamos a linguagem arquitetônica, criamos ambientes e vocabulários conforme as características e necessidades do Sul.”

As madeiras nobres foram realocadas nos pilares estruturais, vigas, pisos, painéis e nos tampos dos lavabos e banheiros (que harmonizaram perfeitamente com as cubas da Baden Banho).

Além do reaproveitamento da madeira, as portas, janelas e telhas também foram restauradas e reutilizadas.

“Empregamos na construção cacos de granito, como revestimento de sóculos, calçadas e chaminés”, conta.

O arquiteto ainda utilizou pedra refratária na lareira, eucaliptos de reflorestamento nas paredes, galhos de árvores, provenientes de podas, em peitoris e como elemento decorativo nas fachadas para manter a linguagem rústica.

Após a reforma, a casa passou a medir 450 m2.

A cozinha é um dos espaços favoritos. O fogão à lenha, alemão, sempre aceso, aquece o ambiente.

A iluminação zenital permite o ingresso da luz natural. Cores quentes, objetos antigos e de valor emocional, como o moedor de café centenário, panelas de ferro e de pedra, mesas antigas de imbuia maciça e bancos também maciços, restaurados, compõem e cenário.

A porta da cozinha foi projetada em madeira maciça com tijolo de vitral, produzido em um processo artesanal e medieval, executado com exclusividade pelo Estudio Vitralis.

Nas duas folhas das portas vaivém foram esculpidos sulcos irregulares sobre pranchas antigas de pinheiro araucária.

Na porta externa, utilizou-se cristal bisotê e rolô para controle de luz e privacidade – cortinas, rolôs e persianas são da Casabela Persianas.

A sala de jantar, com pé-direito mais baixo, segue a mesma linguagem: portas de cristal bisotê que comunicam-se com a varanda fechada e a vista panorâmica da propriedade e do horizonte.

Uma escada leva para a adega, logo abaixo e uma outra, conduz aos andares superiores.

“O guarda-corpo da escada desenhado com exclusividade é feito em ferro irregular, moldado e soldado, haste por haste, simulando galhos de árvores, contrastando com os degraus de madeira, resulta em harmoniosa leveza”, destaca o arquiteto.

A parede superior frontal recebeu 11 vitrais ilustrados com cinco espécies de beija-flores, inspirados nos que vivem na região.

A alvenaria é em reboco baiano sobre estrutura de madeira maciça.

O piso em tábuas largas (40 a 70cm) de imbuia maciça antiga chama a atenção.

A lareira é revestida com pedras refratárias da região, as mesmas utilizadas nos fornos de cal.

As mesas laterais e os abajures foram desenhadas exclusivamente para o ambiente. Os abajures foram fabricados em Minas Gerais, por artesãos especialistas em objetos de ferro.

No frontão do vestíbulo da entrada foi aplicado um painel de galhos, ilustrando uma árvore e na porta principal, tijolos de vitrais, emoldurados em madeira maciça.

O resultado reproduz e propõe uma colagem de todos estes elementos somados a alguns detalhes que compõem o requinte do conjunto, como proporção geométrica entre as partes e o todo.

“Esses elementos resumem nossa contemporaneidade: ecologia, sustentabilidade, regionalidade, resgate de identidades e propostas criativas para um ritmo de vida autêntico”, finaliza Mauro Antonietto.

Revista CasaSul edição jul/2013

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